A Petrobras entrou nos últimas dias em uma trajetória de valorização na bolsa de valores, mas as ações da estatal têm ainda mais espaço para crescimento, segundo especialistas.
Ao CNN Brasil Business, analistas apontam fatores como as boas margens da estatal, níveis recordes de dividendos e a política de preços de combustíveis como fatores positivos.
Entretanto, existem riscos. O principal é o político, característico de empresas como a Petrobras, onde o governo federal é o acionista majoritário.
Na quarta-feira (10), o Inter iniciou a cobertura das ações da empresa com recomendação de compra, estabelecendo um preço-alvo de R$ 46, indicando um potencial de valorização de 24% nos papéis considerando a cotação do dia anterior, de R$ 37,23.
Fundamentos
Rafael Winalda, analista de ações do Inter e autor do relatório sobre a Petrobras, destaca que o ponto central por trás da tese de investimentos é a manutenção da política atual de preços de combustíveis, que acompanha os valores internacionais do petróleo.
O Inter projeta uma trajetória de queda na cotação do barril no curto prazo, chegando a US$ 80 em 2023 e em US$ 65 em 2025. Mesmo assim, a estatal ainda teria números positivos.
“Ela conseguiria gerar muito caixa. Houve uma mudança de gestão, com foco grande no pré-sal, que tem rentabilidade muito grande. O custo de extração é de US$ 6 o barril, enquanto em terra e pós-sal chega a US$ 10, até US$ 15”, afirma Winalda.
A continuidade de resultados financeiros fortes justificaria o potencial de valorização das ações da empresa, segundo o analista, mesmo em um cenário de petróleo mais barato que atualmente.
Ilan Arbetman, analista de Research da Ativa Investimentos, avalia que as ações da Petrobras estão “baratas” mesmo após a valorização recente, que ele atribui aos dividendos recordes anunciados em julho, com boa parte “fruto da própria geração de caixa operacional”.
“Quando olha para trás, vê uma forte geração de caixa há alguns trimestres. Esperamos ver uma continuidade das condições de hoje para o futuro próximo, com um petróleo forte e uma estrutura operacional muito próxima da que já tem hoje, onde produz mais de 72% do óleo no pré-sal”, diz.
Além disso, a Petrobras vem negociando a múltiplos inferiores dos de outras grandes petroleiras estrangeiras, ressalta o analista de ações da Levante Flavio Conde.
Principal referência para o mercado, o EV/EBITDA da Petrobras é de 2,5 vezes, distante da média histórica da estatal de 4 vezes, da média de grandes petroleiras na casa de 6 vezes e de gigantes do setor, como a Exxon, que está em 15 vezes.
Para Conde, a diferença se deve ao fato do “grande risco político” na empresa, que é estatal e não está livre de interferências do governo, com o risco maior na sua política atual de preços.
“Sem a questão estatal, as ações estariam tranquilamente em R$ 48. Hoje estão em torno de R$ 30. Esse risco que é precificado pelos investidores”, afirma Conde.
Ele diz, porém, que muitos no mercado ainda mantém a ação em suas carteiras mesmo temendo interferências como a entre 2014 e 2016 e as trocas de presidentes em 2021 e 2022.
O motivo seriam os “dividendos recordes, e a perspectiva de continuidade desses dividendos grandes nos próximos trimestres”.