Um dos maiores oleodutos do mundo, o Trans-Alaska Pipeline, pode estar em perigo. Ele tem 1.300 quilômetros e corta de Prudhoe Bay, no norte do Alaska, nos Estados Unidos, até Valdez, em Prince William Sound, no sul do Estado americano. O perigo está no degelo do permafrost, que ameaça minar os suportes que sustentam uma seção elevada do oleoduto, colocando em risco sua integridade estrutural e aumentando o potencial de derramamento de óleo em uma paisagem delicada e remota. A inclinação do permafrost, onde uma seção de pouco mais de 8 metros do oleoduto é fixa, começou a se deslocar conforme ele degela, fazendo com que vários suportes de sustentação que seguram o oleoduto se torçam e dobrem. Este parece ser o primeiro caso em que suportes de oleodutos foram danificados por “deslizamento de encosta” causado pelo degelo do permafrost. Para lembrar, o permafrost é o solo que passa todo o ano congelado e que cobre 25% da superfície terrestre do Hemisfério Norte, sobretudo na Rússia, Canadá e Alasca. Pode ser composto por pequenos fragmentos de gelo ou grandes massas, e sua espessura pode ir de poucos metros a centenas de metros. Com o aumento das temperaturas por causa do verão no hemisfério norte, o permafrost esquenta e começa a derreter, liberando progressivamente os gases que estavam neutralizados. O fenômeno, segundo os cientistas, deve ganhar velocidade.
Esta experiência que a empresa dona do oleoduto está atravessando também pode ser muito útil para o mercado brasileiro. Não exatamente, claro, pelo degelo, mas pelas soluções de engenharia já desenvolvidas por aqui. São experiências projetadas e prontas para construção de bases muito mais seguras e resistentes a estes tipos de interferências com esforços transversais e axiais em instalações de oleodutos ou gasodutos. As soluções em questão foram desenvolvidas exclusivamente para seguir a modernidade e a economicidade das empresas que optarem pela construção de tubulações na contração de dutos aparentes, sem precisar enterra-los. Esta é uma defesa que quem faz é o pai da ideia e desta nova metodologia construtiva de dutos aparentes no Brasil, o empresário Paulo Fernandes (foto à esquerda), fundador e presidente da Liderroll, que conta com uma experiência internacional na construção de dutos.
Há pelo dez anos, ele defende diretrizes e metodologias totalmente novas e revolucionárias, que representam uma redução drástica de tempo e custo das novas construções. Estas soluções já foram apresentadas nas reuniões com membros da Agência Nacional do Petróleo (ANP); e em comentários para revisão RTDT (Regulamento de Dutos Terrestres), recém criado e adotado pela própria ANP, que trás as principais orientações e diretrizes nas construções de dutos no Brasil. Claramente, os cuidados com as bases em caso de degelo de montanhas não era uma delas, mas os cuidados que eram necessários na construção das bases e suportes, sim. Fernandes lembra que este tema foi abordado tanto aqui na sede da ANP, como em Houston, em uma reunião no estande da agência durante a realização da OTC. Estas reuniões não só versaram sobre a parte construtiva, mas com as observações feitas pela Liderroll sobre o novo regulamento. Para Paulo Fernandes, ele precisa ser revisado e melhor detalhado no quesito da normatização/ regulamentação dos “Acessórios” que compõem os dutos e as estações de recebimento de PIGs. Fernandes lembra que “este item foi abordado de forma muito superficial.”
Nos Estados Unidos, o Departamento de Recursos Naturais do Alasca aprovou o uso de cerca de 100 termos-sifões, que sugam o calor do permafrost através dos seus internos, para manter o declive congelado no lugar e evitar maiores danos à estrutura de suporte do oleoduto. Em um comunicado, o departamento disse: “O projeto proposto (uso de termos-sifões adicionais) já é parte integrante da proteção do gasoduto, de acordo com análise de novembro de 2020. As implicações deste degelo, impactam diretamente a integridade do oleoduto pelo efeito que a mudança climática está tendo na região em geral.” Embora a instalação destes tubos seja comum ao longo da extensão do oleoduto, os registros disponíveis mostram que eles nunca foram usados anteriormente como uma proteção defensiva, uma vez que um declive nunca começou a deslizar. Nas últimas décadas, as temperaturas do permafrost aumentaram até 3,5 graus.
Ao pedir permissão em fevereiro de 2020 para instalar os termos-sifões na encosta noroeste de Fairbanks, perto da Dalton Highway, na parte central do Estado, a Alyeska Pipeline Service, que opera o gasoduto, confirmou que o degelo do permafrost já representava uma séria ameaça: “O objetivo deste projeto é proteger a integridade da linha principal do Oleoduto Trans-Alaska da degradação do permafrost.” Michelle Egan (foto à esquerda), porta-voz da Alyeska, (uma associação de empresas de petróleo que inclui uma subsidiária da Hilcorp Energy, além ConocoPhillips e da ExxonMobil), não quis dar declarações sobre a condição da seção enfraquecida do tubo ou a extensão do degelo do permafrost. Egan disse apenas que “as mudanças no permafrost foram antecipadas durante o projeto original” do gasoduto de 1.300 quilômetros, inaugurado em 1977. Existem cerca de 124 mil termos-sifões dispostos ao longo do caminho do oleoduto. Um aceno de seus engenheiros para a importância de manter o solo abaixo dele congelado. Os tubos são perfurados de 4,5 a 21 metros no permafrost em regiões aonde o aquecimento pode causar o degelo. Mas esses resfriadores apenas resfriam o permafrost diretamente abaixo da tubulação, que mantém os suportes.
Para finalizar, o presidente da Liderroll disse que o problema que está o ocorrendo no Alasca, “muito provavelmente não ocorreria com a aplicação e montagem da solução já patenteada pela empresa. As estacas helicoidais são cravadas em seu limite de ‘Nega’ a tração e a compressão com a posterior montagem com simples encaixe vertical dos seus suportes por roletes de giro livre. Os esforços e cargas laterais de cisalhamento induzidos pelo deslocamento do permafrost, seriam desprezíveis em confronto com a resistência das estacas em somatório com a resolução interna de resultantes nulas em face da própria geometria projetada para os suportes. Não haveria deformação na estrutura.”